Caros irmãos e irmãs,
Hoje celebramos a Ascensão do
Senhor. Esta festa tem sua inspiração na narrativa dos Atos dos Apóstolos que
ouvimos na primeira leitura. Após sua paixão, Jesus se mostrou vivo aos
Apóstolos falando do Reino de Deus (At 1,3). Segundo Lucas, estas aparições do
Ressuscitado duraram 40 dias, número simbólico para indicar um período de
preparação para algo importante. Jesus passou quarenta dias no deserto se
preparando para sua missão (Lc 4,1-13), agora são os apóstolos que passam 40
dias se preparando para continuar aquilo que seu Senhor iniciou, o Reino. Após
este tempo Jesus sobe aos céus diante deles. Esta “subida” indica a última
aparição do Ressuscitado aos Apóstolos e é chamada pela Igreja de Ascensão. Ela
revela a entrada definitiva da humanidade de Cristo na glória divina,
simbolizada pela nuvem e pelo céu[1], e nos dá a certeza que
seremos conduzidos à mesma glória[2].
É interessante perceber que a
liturgia da Igreja é organizada a partir da narrativa de Lucas. Há cerca de 40
dias atrás celebramos a ressurreição e durante este tempo todas as leituras
dominicais mostravam esta realidade. Hoje recordamos a subida do Senhor ao céu
e daqui a cerca de 10 dias celebraremos a vinda do Espírito Santo, a festa de
Pentecostes. A distinção dos acontecimentos (Ressurreição, Ascensão,
Pentecostes) ajuda os fiéis a compreender melhor o único mistério divino
manifestado na vida de Jesus e da Igreja.
Retomemos a Carta aos Efésios
quando fala da realidade que celebramos hoje:
Deus “manifestou a sua força em Cristo,
quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus (...)
Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a cabeça
da Igreja, que é seu corpo, a plenitude que possui a plenitude universal” (Ef
1,20-23).
Entronização é o outro nome da
Ascensão, quando Deus coloca Jesus no lugar que lhe é devido, à sua direita na
condução do mundo e da Igreja, inaugurando, assim, o Reino messiânico (cf. Dn
7,14)[3]. Só que não podemos nos
enganar e pensar que esse Reino é glorioso, triunfante, como o reino de Israel
que os discípulos pensavam que Jesus iria restabelecer (cf. At 1, 6). Ele
continua sendo humilde, pequeno e exercido através daquelas pessoas que aceitam
fazer parte dele. O melhor sinal desse reinado de Deus no nosso meio é a
comunidade cristã, a Igreja, onde os irmãos procuram viver unidos em vista da
missão. Por isso, nada de triunfalismo nem de vergonha ou medo por fazer parte
da Igreja.
Quem já leu o evangelho de
Mateus todo sabe que ele não apresenta a narrativa da Ascensão porque Jesus
ressuscitado prometeu permanecer com os seus todos os dias até o fim dos tempos
(cf. Mt 28,20). Assim, aquele que foi chamado de Emanuel quando nasceu (cf. Mt
1,23-24) é com maior razão o Deus Conosco após sua ressurreição! Sinal da sua
presença são as conversões, as curas e milagres que acompanham a missão narrados
no livro dos Atos dos Apóstolos e ainda testemunhados na Igreja hoje. Mais uma
vez precisamos recordar que a presença do Ressuscitado não é garantia de
sucesso ou de triunfo na missão. As perseguições, incompreensões e rejeições à
Boa Nova continuarão, mas Jesus está conosco!
Participar de uma comunidade
cristã (corpo de Cristo) é a maneira mais segura de se unir a Jesus vivo (cabeça
da Igreja) e experimentar sua presença. É também um meio de construir e
testemunhar o Reino de Deus no nosso meio. Por isso, meus irmãos e irmãs, procuremos
participar dos pequenos grupos (grupos de reflexão) que estamos iniciando em
todas as comunidades da nossa paróquia, para que possamos experimentar o
mistério da Ascenção que celebramos hoje: “Ele, nossa cabeça e princípio, subiu
aos céus, não para afastar-se da nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de
que nos conduzirá à glória da imortalidade”[4].
Pe.
Emilio Cesar
Pároco
de Messejana
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