sábado, 31 de maio de 2014

TEMPO DA PÁSCOA - ASCENSÃO DO SENHOR - ANO A


                                                                   Caros irmãos e irmãs,
Hoje celebramos a Ascensão do Senhor. Esta festa tem sua inspiração na narrativa dos Atos dos Apóstolos que ouvimos na primeira leitura. Após sua paixão, Jesus se mostrou vivo aos Apóstolos falando do Reino de Deus (At 1,3). Segundo Lucas, estas aparições do Ressuscitado duraram 40 dias, número simbólico para indicar um período de preparação para algo importante. Jesus passou quarenta dias no deserto se preparando para sua missão (Lc 4,1-13), agora são os apóstolos que passam 40 dias se preparando para continuar aquilo que seu Senhor iniciou, o Reino. Após este tempo Jesus sobe aos céus diante deles. Esta “subida” indica a última aparição do Ressuscitado aos Apóstolos e é chamada pela Igreja de Ascensão. Ela revela a entrada definitiva da humanidade de Cristo na glória divina, simbolizada pela nuvem e pelo céu[1], e nos dá a certeza que seremos conduzidos à mesma glória[2].
É interessante perceber que a liturgia da Igreja é organizada a partir da narrativa de Lucas. Há cerca de 40 dias atrás celebramos a ressurreição e durante este tempo todas as leituras dominicais mostravam esta realidade. Hoje recordamos a subida do Senhor ao céu e daqui a cerca de 10 dias celebraremos a vinda do Espírito Santo, a festa de Pentecostes. A distinção dos acontecimentos (Ressurreição, Ascensão, Pentecostes) ajuda os fiéis a compreender melhor o único mistério divino manifestado na vida de Jesus e da Igreja.
Retomemos a Carta aos Efésios quando fala da realidade que celebramos hoje:
Deus “manifestou a sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus (...) Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a cabeça da Igreja, que é seu corpo, a plenitude que possui a plenitude universal” (Ef 1,20-23).
Entronização é o outro nome da Ascensão, quando Deus coloca Jesus no lugar que lhe é devido, à sua direita na condução do mundo e da Igreja, inaugurando, assim, o Reino messiânico (cf. Dn 7,14)[3]. Só que não podemos nos enganar e pensar que esse Reino é glorioso, triunfante, como o reino de Israel que os discípulos pensavam que Jesus iria restabelecer (cf. At 1, 6). Ele continua sendo humilde, pequeno e exercido através daquelas pessoas que aceitam fazer parte dele. O melhor sinal desse reinado de Deus no nosso meio é a comunidade cristã, a Igreja, onde os irmãos procuram viver unidos em vista da missão. Por isso, nada de triunfalismo nem de vergonha ou medo por fazer parte da Igreja.
Quem já leu o evangelho de Mateus todo sabe que ele não apresenta a narrativa da Ascensão porque Jesus ressuscitado prometeu permanecer com os seus todos os dias até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20). Assim, aquele que foi chamado de Emanuel quando nasceu (cf. Mt 1,23-24) é com maior razão o Deus Conosco após sua ressurreição! Sinal da sua presença são as conversões, as curas e milagres que acompanham a missão narrados no livro dos Atos dos Apóstolos e ainda testemunhados na Igreja hoje. Mais uma vez precisamos recordar que a presença do Ressuscitado não é garantia de sucesso ou de triunfo na missão. As perseguições, incompreensões e rejeições à Boa Nova continuarão, mas Jesus está conosco!
Participar de uma comunidade cristã (corpo de Cristo) é a maneira mais segura de se unir a Jesus vivo (cabeça da Igreja) e experimentar sua presença. É também um meio de construir e testemunhar o Reino de Deus no nosso meio. Por isso, meus irmãos e irmãs, procuremos participar dos pequenos grupos (grupos de reflexão) que estamos iniciando em todas as comunidades da nossa paróquia, para que possamos experimentar o mistério da Ascenção que celebramos hoje: “Ele, nossa cabeça e princípio, subiu aos céus, não para afastar-se da nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade”[4].
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana




[1] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 660.
[2] Cf. Prefácio da Ascensão do Senhor I.
[3] “A partir desse momento, os apóstolos se tornam as testemunhas do Reino que não terá fim” (Catecismo da Igreja Católica, n.  664).
[4] Prefácio da Ascensão do Senhor I.

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