Ez 18,25-28
Fl 2,1-11
Mt 21,28-32
Caros
irmãos e irmãs,
Ouvimos o evangelho da parábola
dos dois filhos (Mt 21,23-27). Ao pedido do pai de ir trabalhar na sua vinha, o
primeiro respondeu com um simples e grosseiro “não quero” mas mudando de
opinião foi. O segundo respondeu com muita cortesia, “sim, senhor, eu vou”, mas
não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?
Esta pergunta Jesus faz àqueles
que são os chefes dos sacerdotes e anciãos do povo (cf. Mt 21,23). Lembremos
que o Mestre estava no templo de Jerusalém, ensinando ao povo quando as
autoridades religiosas da época se aproximam para questioná-lo (cf. Mt 21,23).
A pergunta de Jesus é provocativa e visa envolver seus interlocutores na
parábola depondo contra si próprios: o primeiro foi quem fez a vontade do pai!
Disseram os chefes do povo.
Então Jesus lhes disse:
“Em verdade eu vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas
vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até vós, num caminho de
justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os cobradores de impostos e
as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes
para crer nele” (Mt 21,31-32).
O filho que disse não mas
depois foi trabalhar na vinha do pai representa aqueles que eram marginalizados
pela sociedade religiosa e civil da época: as prostitutas, os cobradores de
impostos etc. Estes, diante da pregação de João Batista, se converteram,
“mudaram de opinião[1]”
(cf. Mt 21,29.32).
O segundo filho, que respondeu
respeitosamente ao pai, são as autoridades religiosas da época, bem vistas por
todos, que sabem fazer belos discursos e orações mas possuem uma prática que
nega o que dizem. Não aceitaram a pregação de João Batista, não conseguiram ler
nem mesmo o grande sinal das conversões dos pecadores públicos. Aqueles que
estavam à margem da religião e da sociedade, ouviram o apelo à mudança e
mudaram, entraram num processo de conversão diante da pregação do Batista. Este
grande sinal não foi suficiente para que o coração das autoridades religiosas
da época mudasse de opinião.
Fazer a vontade de Deus era o
eixo sobre o qual girava toda a religião do A.T. e do judaísmo, e a Lei era sua
manifestação mais clara. Mas agora a revelação plena e perfeita da vontade de
Deus acontece em Jesus que anuncia a vinda do Reino de Deus e chama à conversão
(cf. Mt 4,17). A conversão agora passa pela adesão ao ensinamento e à pessoa de
Jesus. No centro da fé não está mais a Lei mas uma pessoa, Jesus Cristo. Os
verdadeiros obedientes são os marginalizados que aderiram ao querer de Deus
manifestado na vida e no ensinamento de Jesus. A obediência chama-se agora fé
no Filho. E é sobre a base de tal obediência-fé que os pecadores são salvos e
começam a fazer parte do Reino de Deus, enquanto os observantes da Lei
permanecem excluídos[2].
Crer em Jesus Cristo implica em
uma conversão do coração que se manifesta em mudança de atitudes e
comportamentos. O evangelho de hoje nos serve para questionarmos como estamos
nos colocando diante das palavras do Mestre. Conhecemos o que Jesus disse,
sabemos suas palavras, sabemos responde-la com belas orações, mas estamos
deixando que elas nos questionem e mudem nossa opinião? Estamos aderindo à sua
pregação com nossa convicção que gera conversão, mudança de vida? Ou estamos
como os chefes religiosos da época de Jesus, muito acomodados com nossa posição
religiosa, com nossa “vidinha boa”, e, por isso, nosso sim a Deus é meramente
verbal, desmentido pelos fatos da nossa vida?
Pe. Emilio Cesar Porto Cabral
Pároco de Messejana
[1]
O verbo utilizado por Mateus é metamelomai tanto no v. 29, para indicar
a conversão do primeiro filho; quanto no v. 32 para indicar que as autoridades
religiosas não se converteram diante do sinal de muitos pecadores públicos que
mudavam de vida com a pregação de João Batista. O verbo indica uma mudança
daquilo que se tem no coração e pode ser traduzido por “mudança de opinião”
(cf. Zerwick, A grammatical analysis,
Mt 21,29; W. Bauer, A greek-english
léxicon, “metamelomai”. O vocábulo não possui uma teologia tão
desenvolvida quanto outros que indicam a conversão: metanoeô e strefô.
[2]
Cf. G. Barbaglio – R. Fabris
– B. Maggioni, Os Evangelhos I, 2a
ed., São Paulo: Loyola, 1990 (Bíblica Loyola, 1), p. 321.
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