Is 5, 1-7
Fl 4,6-9
Mt 21,33-43
O Reino de
Deus será entregue a um povo que produzirá frutos (cf. Mt 21,43)
O evangelho de hoje implica sabermos
o que é uma vinha na antiguidade e conhecer as passagens do Antigo Testamento (primeira
leitura) que aplicam esta imagem ao povo de Deus.
Todos sabem que uma vinha é uma
plantação de uva, mas poucos têm conhecimento que uma plantação como aquela
descrita no evangelho é rara. Poucos tinham condições de construir um lagar
próprio para pisar suas uvas e fazer vinho, e menos ainda conseguir erguer uma
torre de guarda para protegê-la dos assaltantes. O proprietário desta vinha,
além de ter muito dinheiro, devia gostar muito dela para fazer tudo isso.
Ouvindo para primeira leitura (Is
5,1-7) descobrimos que Deus compara seu povo com uma vinha que ele plantou e cuidou
muito bem. Aguardava dela frutos doces, justiça e bondade, mas só colheu frutos
azedos, injustiça e iniquidade. Por isso, Ele irá entrar em juízo com seu povo
(v. 3). Retirará a cerca, deixará de podá-la e não permitirá que chova sobre
ela. O Senhor fará tudo isso com a esperança que seu povo se converta, passe a
produzir frutos bons e assim continue sendo sua plantação predileta.
O evangelho, mais que uma parábola,
narra uma alegoria onde cada elemento tem seu significado. Deus é o
proprietário, a vinha é Reino de Deus (v. 43); os arrendatários são as
autoridades judaicas da época de Jesus (v. 41) que o rejeitaram e o mataram
fora de Jerusalém (v. 39); os servos que vieram pedir o fruto da plantação são
os profetas; o outro povo a quem será entregue a vinha são todos aqueles que
acreditam em Jesus e formarão a Igreja de Deus. A atenção dos leitores se volta
para o filho do dono que é o próprio Jesus.
Os vinhateiros pensavam que matando o
herdeiro iriam se apropriar de toda a plantação (v. 38). Jesus então pergunta a
seus interlocutores, os sumos sacerdotes e ancião do povo: “Pois bem, quando o
dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?” A resposta deles (v.
41) os compromete em primeira pessoa, e é a partir dela que Jesus pode emitir a
palavra final:
“Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A
pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito
pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos?’ Por isso, eu vos digo: o Reino
de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos” (Mt
21,42s).
Esta palavra não é simplesmente de
Jesus, é também a da Igreja da época que foi escrito o evangelho. A fidelidade
a Deus será decidida não somente a partir da pertença a um povo que não produz
frutos de conversão, mas a partir da adesão a Cristo. O evangelho está
afirmando que o Reino de Deus será retirado do povo do AT que não aceitou Jesus
como Messias, pedra angular, e será dado a um povo que o aceite e produza
frutos. Tal povo é a comunidade dos seguidores de Jesus, a Igreja, independente
se são judeus ou gentios (Mt 18, 17; 16,18).
Nós somos esse povo que recebeu a
vinha, o Reino de Deus, para que produzamos frutos de justiça e caridade e os
entreguemos ao Senhor. Nossa vida em comunidade é um exercício contínuo de
produzir e entregar os frutos. Organizamos as pastorais, cuidamos dos pobres e
enfermos, trabalhamos nas festas de padroeiro, zelamos pela capela... mas nada
é nosso, nem para nós. Quando chegar a
hora não podemos reter os frutos, reivindicar a posse da pastoral, da capela ou
do trabalho. Mas precisamos entregá-los para o Senhor deixando que outras
pessoas continuem nossos trabalhos, talvez de forma diferente de nós, de uma
maneira que não concordamos. Isso é não reter o frutos.
Na nossa vida mais privada, somos
convidados a não reter os dons da vinha entregando o que temos de mais preciso
a Ele: nossos filhos. Esses frutos não são nosso, mas de Deus. Precisamos saber
disso para educá-los corretamente e, quando chegar a hora, entregarmos ao
Senhor seja aceitando que se tornem missionários, padres, freiras, leigos
engajados na Igreja, seja deixando que sigam suas vidas de forma coerente com
os valores que lhe tentamos passar.
Um último aspecto que gostaria de
lembrar: Deus nos dá o emprego, a força para trabalhamos e o sustento
necessário e, muitas vezes, mais que o necessário. Por que não devolver-Lhe uma
parte desses frutos em forma de dízimo?
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana
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