sábado, 10 de janeiro de 2015

BATISMO DO SENHOR TEMPO DO NATAL

TEMPO DO NATAL
MISSA DO BATISMO DO SENHOR

Is 42,1-4.6-7
At 10,34-38
Mc 1,7-11

Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer” (Mc 1,11).

Estamos chegando ao final do Tempo do Natal com a festa do Batismo do Senhor, a última solenidade que celebra a manifestação divina (epifania). Domingo passado deixamos Jesus na manjedoura sendo adorado e presenteado pelos magos que vieram do oriente. Hoje o encontramos crescido, com cerca de trinta anos de idade, à margem do rio Jordão.
Marcos nos diz que depois de ser batizado por João, junto com os outros penitentes, Jesus saiu da água. Neste momento, os céus que estavam fechados são rasgados (cf. Is 63,19). O Espírito de Deus desce e unge este homem. A voz do alto dá o veredito final: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer” (Mc 1,11). O evangelista constrói a cena fazendo referência ao cântico do Servo que ouvimos na primeira leitura – “Eis o meu servo – eu o recebo (...) nele se compraz a minh’alma; pus o meu espírito sobre ele...” (Is 42,1) – e mostra que Jesus é único na sua relação com o Pai e na sua Unção para missão.  Por isso é chamado “meu Filho” (de Deus) e apresentado como o Ungido de Israel (Cristo-Messias). Tudo acontece não simplesmente para enaltecer Jesus ou para mostrar que Deus é grandioso, mas para a salvação dos homens e mulheres. Como ouvimos na primeira leitura: “eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirares os cativos da prisão, livrares do cárcere os que vivem nas trevas (Is 42,6s). Ou ainda na segunda leitura: “Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele” (At 10,38)
O batismo realizado por João era uma celebração penitencial que dispunha os participantes a receber o Enviado de Deus com uma vida mais reta. Ele, porém, possuía elementos prefigurativos do batismo cristão[1], especialmente quando contemplamos a cena ouvida no evangelho de hoje: a água, o Espírito Santo, a filiação divina, o chamado profético para ser salvação para os outros, a dimensão penitencial[2]. Por esse motivo gostaria de relembrar a graça e o sentido do nosso batismo.
No começo da Igreja, o batismo era conferido aos adultos que tinham a capacidade de viver e entender este sacramento. Era precedido por uma longa e intensa preparação chamada de catecumenato que incluía vida fraterna, celebrações, doutrinas e espiritualidade. Na noite de Páscoa eles participavam pela primeira vez de toda a celebração eucarística e nela recebiam o batismo, a crisma e a comunhão. Era um verdadeiro choque espiritual que depois precisava de mais catequese[3] para explicar o que tinha acontecido naquela noite. Dessa maneira se entrava na família de Deus. A espiritualidade batismal plasmava toda a vida da Igreja e os pastores sempre se referiam a este momento para falar sobre os carismas e os compromissos da vida cristã. O batismo não era vivenciado apenas como um ato pontual, mas como uma condição existencial nova[4].
Infelizmente as coisas mudaram. O batismo passou a ser ministrado no início da vida como um rito formal que serve para dar um nome ao recém-nascido e registrar-lhe entre os que pertencem à religião cristã[5]. Hoje poderíamos acrescentar outras motivações como fazer uma festa para familiares e amigos, afastar “mal olhados” ou “quebrantes”, evitar que chamem a criança de pagã. Reduzimos assim o sacramento mais fundamental da nossa fé apenas a um ato particular de uma família e à sua dimensão social, quando não à elementos supersticiosos.
O santo Batismo é o fundamento de toda a vida cristã, o pórtico da vida no Espírito (‘porta da vida espiritual’) e a porta que dá acesso aos outros sacramentos. Pelo Batismo somos libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus: tornamo-nos membros de Cristo e somos incorporados na Igreja e tornados participantes na sua missão. ‘O Batismo pode definir-se como o sacramento da regeneração pela água e pela Palavra’[6].
A riqueza do sacramento nos permitiria falar por horas, mas gostaria de aprofundar um ponto. Pelo batismo passamos a fazer parte da missão profética de Jesus e do povo messiânico fundado por ele. O próprio nome “cristão” significa “ungido”, e remete à cena da unção do Senhor às margens do Jordão. A partir desse momento o Mestre foi consagrado pelo Pai com o Espírito para um serviço de salvação: pregar a boa nova aos pobres, curar os corações aflitos, anunciar aos cativos a libertação... (cf. Is 61,1). Com nosso batismo somos também consagrados a um serviço aos outros, especialmente aos pobres e sofredores[7].
Redescobrir o próprio batismo significa também redescobrir-se como Igreja para o mundo, como Igreja para os pobres e sofredores. Se tivermos essa coragem ouviremos também uma voz do alto dizendo: Tu também és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer![8]



Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana




[1] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 720. No prefácio desta festa a Igreja reza: “Hoje, nas águas do rio Jordão, revelais o novo Batismo, com sinais admiráveis”.
[2] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno B. 9a Ed., Roma: Città Nuova 2001, p. 62.
[3] Essa nova etapa catequética era chamada de mistagogia.
[4] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno B. 9a Ed., Roma: Città Nuova 2001, p. 61.
[5] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno B. 9a Ed., Roma: Città Nuova 2001, p. 61s.
[6] Catecismo da Igreja Católica, n. 1213.
[7] Cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno B. 9a Ed., Roma: Città Nuova 2001, p. 63.
[8] Cf Raniero Cantalamessa, La Parola e la vita. Riflessioni sulla Parola di Dio delle Domeniche e delle feste dell’anno B. 9a Ed., Roma: Città Nuova 2001, p. 64.

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