quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

II DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B


1Sm 3,3b-10.19
1Cor 6,13c-15a.17-20
Jo 1,35-42

Não deixava cair por terra nenhuma de suas palavras” (1Sm 3,19).

Ouvimos a proclamação de um evangelho que nos parece muito simples, sem profundidade teológica, mas com elementos que refletem o acontecimento histórico. João apresenta o Cordeiro de Deus para dois de seus discípulos. Curiosos, eles o seguem e pedem para conhecer sua morada. “Vinde ver” (Jo 1,39), diz Jesus. Eles passaram o resto do dia conversando com o Mestre, trocando ideias, conhecendo seus hábitos e ficaram impressionados. Voltaram para casa e começaram a contar para seus amigos e familiares esta experiência: “Encontramos o Messias” (Jo 1,41), disse André a Simão. Com o passar do tempo, sob o convite de Jesus, decidiram abandonar família e trabalho e segui-lo.
Conhecemos o desenrolar da história. Aqueles primeiros se tornaram apóstolos, receberam o Espírito Santo, continuaram a missão de Jesus, pregaram a Palavra do Senhor, fundaram comunidades cristãs, testemunharam sua fé com a própria vida tornando-se assim os fundadores da Igreja de Jesus Cristo chamada de Católica Apostólica.
O que esta Palavra tem a nos dizer hoje? Somos convidados a fazer a mesma experiência que eles fizeram: passar uma jornada com Jesus para conhecê-lo melhor e decidirmos se queremos segui-lo realmente. Mas como isso acontece?
Hoje não podemos mais ver o Mestre, abraçá-lo ou tocá-lo como os primeiros discípulos faziam. As coisas se desenrolam em um outro nível, o da fé que vem pela escuta (cf. Rm 10,14.17). O que temos de mais “palpável” e humano é a Palavra divina que Jesus nos deixou como Novo Testamento. Esta palavra escrita, letra, se torna viva na proclamação da Igreja e na sua vivência em comunidade. Para aprofundar isso podemos voltar à primeira leitura.
Samuel desde criança servia a Deus no templo de Silo e aprendia com o profeta Eli as coisas santas. Numa noite ouviu alguém chamar seu nome. Correu e foi se apresentar ao profeta: “Tu me chamaste, aqui estou” (1Sm 3,4). A mesma cena se repete outras duas vezes porque “Samuel ainda não conhecia o Senhor, pois, até então, a palavra do Senhor não se lhe tinha manifestado” (1Sm 3,7). O conhecimento de Deus é mediado pela Sua palavra. Antes esta palavra era dirigida aos profetas esporadicamente. Na plenitude dos tempos ela se fez homem em Jesus de Nazaré e foi dirigida a toda humanidade através da pregação apostólica.  Para que essa pregação realmente atingisse a todos até o fim dos tempos, Deus suscitou pessoas que escrevessem livros inspirados pelo Espírito Santo. As 27 obras que compõe o Novo Testamento são os livros sagrados dos cristãos. Eles contém a palavra de Deus, a palavra de Jesus e dos apóstolos. São palavras de salvação e vida que podem nos curar, libertar e, principalmente, nos fazer conhecer Jesus e seu projeto. Estes livros, porém, podem ser só literatura antiga se alguém quisesse se aproximar deles apenas com o intuito de estudo acadêmico. Ou mesmo se se aventurasse no seu estudo solitariamente. O Novo Testamento, bem como o Antigo, só se tornam Palavra de Deus na proclamação da Igreja e na sua vivência comunitária.
Estamos numa ocasião privilegiada, a assembleia litúrgica. Aqui e agora as passagens proclamadas ganham a eficácia de Palavra de Deus, dirigida a cada um de nós para que possamos conhecer melhor quem é Jesus e seu caminho de discipulado. Precisamos aprender a escutar o que o Senhor tem a nos falar. Não podemos estar na assembleia dominical passivamente, dispersos ou apenas de corpo presente. A escuta para ser eficaz precisa ser ativa e reativa confrontando aquilo que é proclamado e explicado com a própria vida e ações. A escuta implica em conservar dentro de si a mensagem principal e recordá-la durante a semana.
Para concluir gostaria de retomar a última frase da primeira leitura: “Samuel crescia, e o Senhor estava com ele. E não deixava cair por terra nenhuma de suas palavras” (1Sm 3,19). Se queremos conhecer Jesus, quem ele é, qual seu projeto de vida, se precisamos que nos cure de alguma enfermidade, especialmente nos liberte do pecado do egoísmo, não podemos deixar que a palavra proclamada hoje nesta comunidade caia por terra. Não podemos perdê-la. Recolhamos pois as palavras do Senhor em nosso coração neste momento de silêncio.




Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana

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