1Sm
3,3b-10.19
1Cor
6,13c-15a.17-20
Jo
1,35-42
“Não deixava cair por
terra nenhuma de suas palavras” (1Sm 3,19).
Ouvimos a proclamação de um evangelho que nos parece muito
simples, sem profundidade teológica, mas com elementos que refletem o
acontecimento histórico. João apresenta o Cordeiro de Deus para dois de seus
discípulos. Curiosos, eles o seguem e pedem para conhecer sua morada. “Vinde
ver” (Jo 1,39), diz Jesus. Eles passaram o resto do dia conversando com o
Mestre, trocando ideias, conhecendo seus hábitos e ficaram impressionados.
Voltaram para casa e começaram a contar para seus amigos e familiares esta
experiência: “Encontramos o Messias” (Jo 1,41), disse André a Simão. Com o
passar do tempo, sob o convite de Jesus, decidiram abandonar família e trabalho
e segui-lo.
Conhecemos o desenrolar da história. Aqueles primeiros se
tornaram apóstolos, receberam o Espírito Santo, continuaram a missão de Jesus,
pregaram a Palavra do Senhor, fundaram comunidades cristãs, testemunharam sua
fé com a própria vida tornando-se assim os fundadores da Igreja de Jesus Cristo
chamada de Católica Apostólica.
O que esta Palavra tem a nos dizer hoje? Somos convidados a
fazer a mesma experiência que eles fizeram: passar uma jornada com Jesus para
conhecê-lo melhor e decidirmos se queremos segui-lo realmente. Mas como isso
acontece?
Hoje não podemos mais ver o Mestre, abraçá-lo ou tocá-lo
como os primeiros discípulos faziam. As coisas se desenrolam em um outro nível,
o da fé que vem pela escuta (cf. Rm 10,14.17). O que temos de mais “palpável” e
humano é a Palavra divina que Jesus nos deixou como Novo Testamento. Esta
palavra escrita, letra, se torna viva na proclamação da Igreja e na sua
vivência em comunidade. Para aprofundar isso podemos voltar à primeira leitura.
Samuel desde criança servia a Deus no templo de Silo e
aprendia com o profeta Eli as coisas santas. Numa noite ouviu alguém chamar seu
nome. Correu e foi se apresentar ao profeta: “Tu me chamaste, aqui estou” (1Sm
3,4). A mesma cena se repete outras duas vezes porque “Samuel ainda não
conhecia o Senhor, pois, até então, a palavra do Senhor não se lhe tinha
manifestado” (1Sm 3,7). O conhecimento de Deus é mediado pela Sua palavra.
Antes esta palavra era dirigida aos profetas esporadicamente. Na plenitude dos
tempos ela se fez homem em Jesus de Nazaré e foi dirigida a toda humanidade
através da pregação apostólica. Para que
essa pregação realmente atingisse a todos até o fim dos tempos, Deus suscitou
pessoas que escrevessem livros inspirados pelo Espírito Santo. As 27 obras que
compõe o Novo Testamento são os livros sagrados dos cristãos. Eles contém a
palavra de Deus, a palavra de Jesus e dos apóstolos. São palavras de salvação e
vida que podem nos curar, libertar e, principalmente, nos fazer conhecer Jesus
e seu projeto. Estes livros, porém, podem ser só literatura antiga se alguém
quisesse se aproximar deles apenas com o intuito de estudo acadêmico. Ou mesmo
se se aventurasse no seu estudo solitariamente. O Novo Testamento, bem como o
Antigo, só se tornam Palavra de Deus na proclamação da Igreja e na sua vivência
comunitária.
Estamos numa ocasião privilegiada, a assembleia litúrgica.
Aqui e agora as passagens proclamadas ganham a eficácia de Palavra de Deus,
dirigida a cada um de nós para que possamos conhecer melhor quem é Jesus e seu
caminho de discipulado. Precisamos aprender a escutar o que o Senhor tem a nos
falar. Não podemos estar na assembleia dominical passivamente, dispersos ou
apenas de corpo presente. A escuta para ser eficaz precisa ser ativa e reativa
confrontando aquilo que é proclamado e explicado com a própria vida e ações. A
escuta implica em conservar dentro de si a mensagem principal e recordá-la
durante a semana.
Para concluir gostaria de retomar a última frase da primeira
leitura: “Samuel crescia, e o Senhor estava com ele. E não deixava cair por
terra nenhuma de suas palavras” (1Sm 3,19). Se queremos conhecer Jesus, quem
ele é, qual seu projeto de vida, se precisamos que nos cure de alguma
enfermidade, especialmente nos liberte do pecado do egoísmo, não podemos deixar
que a palavra proclamada hoje nesta comunidade caia por terra. Não podemos
perdê-la. Recolhamos pois as palavras do Senhor em nosso coração neste momento
de silêncio.
Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana
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