quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

III DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B


Jn 3,1-55.10
1Cor 7,29-31
Mc 1,14-20

Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,14).

A Igreja possui 3 anos litúrgicos distintos: A, B e C. Cada um toma um evangelho sinótico como principal referência: Mateus, Marcos e Lucas, respectivamente. Estamos no ano B e por isso iremos ler nos domingos o evangelho de Marcos. Hoje encontramos uma passagem que apresenta o chamado dos primeiros discípulos e o início da pregação de Jesus.
A nossa curiosidade histórica nos faz imaginar que o chamado dos 4 primeiros foi uma continuação do evangelho que ouvimos domingo passado. Os discípulos de João Batista ficaram impressionados com Jesus após passarem algumas horas com ele na Judeia, mas continuaram com o Batista. Depois da prisão e morte de João, voltaram para a Galileia e novamente encontraram o Mestre, que dessa vez teria feito o convite explícito: “Segui-me” (Mc 1,17). A observação do evangelista, “deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus” (Mc 1,18), é principalmente teológica: o chamado reflete a urgência dos tempos e uma disponibilidade total da pessoa. Historicamente acreditamos que que eles já conheciam Jesus da Judeia, já tinham ouvido suas pregações, presenciado suas curas. Eles já o admiravam e, por isso, aceitaram segui-lo.
O que, porém, desejamos aprofundar hoje é a pregação de Jesus: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,14).
A pregação de Jesus é muito semelhante à que Mateus coloca na boca de João Batista: “Arrependei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3,2). Os apóstolos, quando saírem em missão, também anunciarão a mesma mensagem (cf. Mc 6,12; Mt 10,7). Nesta pequena frase temos o núcleo e o princípio da Boa Nova, do Evangelho cristão, da mensagem de salvação.
O povo da primeira Aliança, do Antigo Testamento, esperava por um tempo de paz, de felicidade e de salvação: “Que beleza, pelas montanhas, os passos de quem traz boas-novas, daquele que traz a notícia da paz, que vem anunciar a felicidade, noticiar a salvação, dizendo a Sião: ‘Teu Deus começou a reinar!’ " (Is 52,7). Afirmar que  o “tempo já se completou” significa dizer que chegou o cumprimento das promessas feitas pelos profetas. O melhor e mais privilegiado período da história humana inicia com Jesus. Por isso se pode proclamar: “O Reino de Deus está próximo”, o Senhor resolveu se aproximar de nós de uma forma nunca antes vista! No período de Moisés, dos reis e profetas, Ele visitava seu povo em algumas ocasiões especiais, mas logo voltava à sua morada. Agora veio morar no meio dos homens e mulheres e nunca mais se afastar, como João escreveu no início do seu evangelho: “No princípio era a Palavra (...) e a Palavra se fez carne e armou sua tenda no meio de nós” (Jo 1,1.14). Essa é mais importante mensagem de Jesus que deve chegar aos ouvidos de todos homens e mulheres do mundo, incluindo os nossos. Diante dessa mensagem tão simples e revolucionária, o que fazer?
“Convertei-vos e crede no evangelho”. São duas atitudes que devem ser pensadas simultaneamente. Uma só é verdadeira se acompanhada da outra. Porém a precedência teológica e existencial é o convite a crer. O ser humano desiste de contar somente com seus próprios pensamentos e forças e passa a confiar inteiramente naquele em quem crê e na sua palavra (cf. Lc 1,20.45; Mc 5,36; 10,52). Isso exige um sacrifício do espírito e de todo ser, um gesto de humildade que muitos se recusam a fazer (cf. Mt 8,10; 27,42) ou o fazem pela metade (cf. Mc 9,24). A fé verdadeira alcança tudo (cf. Mc 9,23), particularmente a remissão dos pecados (cf. Mt 9,2) e a salvação (cf. Mc 16,16), da qual é condição indispensável (cf. Mc 16,16)[1].
A conversão implica uma mudança interior e exterior. A mensagem evangélica questiona nossas convicções, ideias, e provoca o arrependimento pelos erros passados e uma nova maneira de pensar, de ver o mundo. Essa mudança interior se expressa plasticamente em ações concretas: algumas são deixadas de lado porque são contrárias à Boa Nova; outras são levadas adiante como consequência “natural” desse processo interior. Arrependimento e conversão constituem a condição necessária para receber a paz, a salvação e a felicidade trazidas por Jesus[2].
Vamos escutar de novo a pregação de Jesus, agora entendendo melhor o que ele proclamou. Deixe que essa mensagem ilumine você, lhe questione e possa se tornar objeto de fé e provocar a conversão: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,14).



Pe. Emilio Cesar
Pároco de Messejana




[1] Cf. Mt 8,10, nota c (A Bíblia de Jerusalém. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2002).
[2] Cf. Mt 3,2, nota g (A Bíblia de Jerusalém. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2002).




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